Noite de um sábado qualquer perdido no meio de maio, me liga minha vó:
– Teus, preciso de um dinheiro emprestado. CINCO ZERO ZERO.
Dei uma risadinha.
– Ok velha, mas porque a senhora está falando igual a uma mafiosa? Não pode falar o número não?
Rápida, ela replicou:
– Mafiosa é a puta que lhe pariu.
Dei uma risadona. Estranho vai ser quando a velha passar uma semana inteira sem me ligar pra zoar meu time (BROCA O PEIXE VITÓRIA) ou me xingar aleatoriamente no meio da tarde com seus belos adjetivos já bastante difundidos na Boca do Rio e numa banda de Cajazeiras: CARA – DE – BUÇANHA – SECA – TORRADA – DAQUELAS – AMASSADAS – QUE – APANHAM – A – NOITE – TODA.
– A senhora é uma coroa descarada mesmo, hein! Me liga pra pedir dinheiro e ainda xinga minha progenitora!
Ela nem deu trela, e continuou:
– E, ó, pra segunda-feira. Meio dia eu te ligo pra confirmar o depósito. Beijo, cara de buçanha roxa. – E desligou.
Até me assustei. Juro que se não fosse o último adjetivo soando tão natural ali pintado em roxo no final, eu ia achar que a velha tava sendo sequestrada, tinha enchido a porra da paciência do sequestrador e ele tava pedido qualquer quientinhos só pra não sair no preju.
Sensacional foi a tag “cara de buçanha seca torrada daquelas amassadas que apanham a noite toda”. Espero ver muitos textos com esse marcador.
Rapá, eu não conheço a tua vó, mas ela lembra muito a minha (que me chamava carinhosamente de zé do toba!).
próxima.