Posts Tagged 'personagens'

Do raciocínio nada nada lógico

Vocês provavelmente já conhecem minha avó. A fama da velha, percebo a cada dia, corre os quatro cantos do mundo. Mas um fato que não é de conhecimento tão público assim é que na verdade toda a minha família é praticamente composta de seres excêntricos (eufemismo pra lunáticos, verdade seja dita).

Prova disso é o meu irmão por parte de pai Eric, 8 meses mais velho que eu, dono de um raciocínio lógico profundo e complexo. Só me dei conta de que ele é uma figura única nesse nosso mundo terreno na semana passada, quando recebi um e-mail maroto dele que descrevia algumas camisas de times/seleções de futebol da sua infindável coleção que ele queria se desfazer. Naquele exato instante me lembrei de um fato não muito distante.

Ao tal fato não muito distante:

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Paula

Seguindo a já (não tão) esquecida lista das cinco meninas que minha mãe acha que me amaram mais, vai ali correndo livre na ponta esquerda Paulinha, a 4°.

Paula era minha vizinha nos anos empoeirados que não voltam mais. Se você acompanha o blog (alô vó!) ou já leu este texto aqui você vai reconhecê-la na figura da irmã de Júnior Bill, num parágrafo que termina assim

Júnior Bill também tinha uma irmã, e ela se chamava Paulinha. Aos 10 anos Paulinha gostava de mim. Aos 12 anos eu gostava de Paulinha. Aos 14 anos Paulinha gostava de Higor, que tinha uma irmã chamada Luana, que gostava de mim e era a melhor amiga de Paulinha.

Ninguém nunca pegou ninguém.

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Minha vó mafiosa

Ceará 1 x 0 Vitória

Tô no quarto, jogando. Aparece a velha, nem bate na porta, põe a cabeça pra dentro:

– Tá perdendo ou tá ganhando, meu filho?

Respondo rápido sem perder a concentração no backhand : – perdendo.

A outra pergunta dela já tava na ponta da língua:

– E aí, ceará que dá pra virar?

Coroa descarada… ainda me fez errar o backhand.

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CINCO ZERO ZERO

Noite de um sábado qualquer perdido no meio de maio, me liga minha vó:

– Teus, preciso de um dinheiro emprestado. CINCO ZERO ZERO.

Dei uma risadinha.

– Ok velha, mas porque a senhora está falando igual a uma mafiosa? Não pode falar o número não?

Rápida, ela replicou:

– Mafiosa é a puta que lhe pariu.

Dei uma risadona. Estranho vai ser quando a velha passar uma semana inteira sem me ligar pra zoar meu time (BROCA O PEIXE VITÓRIA) ou me xingar aleatoriamente no meio da tarde com seus belos adjetivos já bastante difundidos na Boca do Rio e numa banda de Cajazeiras: CARA – DE – BUÇANHA – SECA – TORRADA – DAQUELAS – AMASSADAS – QUE – APANHAM – A – NOITE – TODA.

– A senhora é uma coroa descarada mesmo, hein! Me liga pra pedir dinheiro e ainda xinga minha progenitora!

Ela nem deu trela, e continuou:

– E, ó, pra segunda-feira. Meio dia eu te ligo pra confirmar o depósito. Beijo, cara de buçanha roxa. – E desligou.

Até me assustei. Juro que se não fosse o último adjetivo soando tão natural ali pintado em roxo no final, eu ia achar que a velha tava sendo sequestrada, tinha enchido a porra da paciência do sequestrador e ele tava pedido qualquer quientinhos só pra não sair no preju.

Jenifer

Não sei por que diabos em algum momento não iluminado minha mente achou que isso daria uma lista interessante, mas vá lá, não é um tema tão ruim assim. Encarnando a figura de John Cusack em High Fidelity, resolvi desenvolver, em juízo, essa idéia idiota brilhante: as cinco meninas que minha mãe acha que me amaram mais (da arte de inventar temas esdrúxulos).

É bem verdade que não passo de um piá, mas não foi difícil listar cinco benditas que conseguiram enganar a velha.

Será?

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Meu pau

O General, quando apenas um Capitão.

Se você já leu meu blog alguma vez, provavelmente você está habituado com as histórias do Seu Bigode General. Se você já leu todos os texto (vá lá, ainda são poucos, 5 no máximo) você já deve inclusive ter traçado todo um perfil psicológico do meu velho e suas consequências nos que o envolvem. Eu já teria feito isso, no mínimo.

Uma coisa que você não sabe é que eu evito escrever “meu pai”. Pode parecer idiotice, mas o fato da tecla I ficar ao lado da tecla U já gerou frases do tipo PERAÍ QUE VOU ALI PEGAR MEU PAU ou SEI NÃO, MEU PAU TÁ MUITO IRRITADO ULTIMAMENTE.

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Rua 7, Quadra 4, Cuniã

Minha infância em Porto Velho foi uma daquelas que tu conta pros amigos com brilho nos olhos e cheiro de nostalgia exalando em cada palavra, mas não tem muito de diferente da infância da maioria dos guris da minha geração: se dividia entre acordar, estudar e RUA, com o agravante de algo que você talvez tenha lido na primeira parte do texto: CASCALHO. Todo meu bairro jazia logo acima de uma vigorosa camada quase virgem composta de terra marrom escura, pedregulhos pontudos e objetos não identificáveis.

Alguém ensina pro Google que "Porto" não tem acento.

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A velha Porto

Se você é um dos meus milhares de leitores (abraço pai, beijo mãe) que reside na cidade de Salvador e me conhece pessoalmente, posso te garantir uma coisa – na verdade duas: a primeira é que eu sou um cabra macho retado; a segunda é que eu sou o único ser humano nascido/criado/vivido em Porto Velho que você conhece e provavelmente vai conhecer durante sua estadia na Terra.

Tudo começou quando meu velho, ainda um jovem recém-formado na corporação militar do Estado da Bahia, teve a oportunidade de fazer um concurso para tentar seguir carreira militar no Estado de Rondônia. Você leu certo: Rondônia. Sem muitas opções, com um filho fora do casamento e esta figura que vos digita já engatilhado no útero de minha mãe, lá foi ele. Foi e passou.

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Ontem eu vi Rosinha

E, claro, ela contou a história da camisinha.

Rosinha, pra quem ainda não conhece, é prima-tia-sobrinha-irmã da minha avó por parte de pai em algum grau impossível de ser catalogado. Culpa de uma linhagem de machos-alfa dominantes na minha família desde 1640, disseminadores da nossa raça pelas esquinas do interior da Bahia. Meu pai, por exemplo, emendou eu e meu irmão com uma diferença de 7,5 meses em duas mulheres diferentes. A última delas, com quem ele eventualmente se casou, é minha mãe (a feição de surpresa é geral quando eu conto, até explicar que Eric é meu irmão por parte de pai).

Acho, inclusive, que a linhagem macho-alfa parou no meu velho.

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Deja vs. a igreja

Deja (ou Dejanira, como eu a chamo) é uma figura caricata que trabalha lá em casa fazendo serviços domésticos. Pequena, magrinha e sempre entusiasmada. Parece aqueles viciados ligados numa tomada 220v, que de 5 em 5 minutos precisam de uns tecos na nareta carcomida.

Dias de terça e quinta nunca são iguais. Eu acordo de manhã e apareço na cozinha pra tomar um copo de água, lá está Deja, lavando louça, limpando o chão, ou, sei lá, matando um rato. Além do típico EITA QUE CARA INCHADA, HEIN MATEUS? VAI FAZER ESSA BARBA! PARECE UM URSO!, ela sempre me vem com pérolas do tipo:

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